30 de dezembro de 2014

O Bebê de Rosemary, (1968)



TRILHA ORIGINAL
Lullaby - Mia Farrow (Krysztof Komeda)
A trilha sonora merece uma resenha a parte. As vezes delicada e as vezes intensa, a trilha composta por Krysztof Komeda cria o clima certo para o filme, tocando sempre em seus melhores momentos. Tudo é propício ao medo, mas as situações só se tornam mais e mais tensas no decorrer da história. Komeda é um artista absolutamente fantástico, não só tendo composto um dos mais incríveis temas do cinema, foi com a canção de ninar do filme "Rosemary´s Baby" que ele ganhou destaque mundial (originalmente não foi composta para o cinema, a música em questão era uma canção de ninar em valsa, tema composto anteriormente ao filme que inclusive chegou a ser premiada em um festival de jazz polonês), contudo, sua carreira musical não havia começado apenas em 1968, o trompetista já possuía uma reputação e uma importância enorme para a música polonesa.


O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby) - 1968

O público contemporâneo, na maioria das vezes, se encontra refém de fórmulas de entretenimento vazio. Os filmes de terror baratos que pululam aos montes nos circuitos comerciais comprovam isso. Dotados apenas de uma série de sustos óbvios e tramas rasas, tipificam assertivamente o padrão de pensamento vigente. O instantâneo e o fugaz são guias para a apreciação de qualquer objeto. Qualquer viagem ao subjetivismo e ao aprofundamento filosófico é vista com maus olhos. É o susto e o estímulo causado por ele que contam. Entretanto, nem sempre foi assim. Ao contrário do terror físico, tão explorado na história do cinema, o terror psicológico, tão mal utilizado hoje em dia, tem exemplares que deixam no chinelo a grande parte de seus concorrentes. É o caso de O Bebê de Rosemary (1968), assinado pelo genial Roman Polanski.


Na sua estreia em Hollywood, o polonês Polanski dispôs de total liberdade para expressar seu ponto de vista sobre a obra literária de Ira Levin, base da adaptação. A história nos apresenta Rosemary (a excelente Mia Farrow) e seu marido Guy (John Cassavettes), ela uma solícita e bem intencionada dona de casa e ele um ator em ascensão, recém-instalados num novo apartamento em Nova York. Apaixonada, Rosemary confia plenamente em seu marido. Colocar em xeque suas atitudes nunca lhe passou pela cabeça. Tudo que ele faz se baseia na intenção de vê-la feliz, inclusive dar abertura para que o casal de vizinhos idosos Roman (Sidney Blackmer) e Minnie (perfeitamente interpretada por Ruth Gordon) invada por completo sua vida. Essa simples mudança de rotina dá início aos desdobramentos assustadores que a trama passara a ter. Depois de um terrível pesadelo com uma criatura demoníaca, Rosemary descobre que está grávida. O que devia ser uma notícia alegre se torna a matriz do desespero no qual a protagonista se encontrará gradativamente. Primeiro porque os devaneios lhe trazem a ideia de que está grávida do filho do diabo. Segundo porque seu marido e vizinhos podem estar envolvidos nessa possível trama macabra.


Sem pressa, Polanski constrói uma narrativa extremamente bem elaborada e amarrada, na qual todos os personagens ganham aprofundamento – na medida do necessário, já que o suspense por trás da identidade de algumas personas é deveras necessário – e relevância, sem nunca fugir do foco central: a gestação de Rosemary e o impacto disso. A presença do casal vizinho fica mais frequente ao passo que o marido se distancia por ganhar espaço no cenário artístico de Nova York, e Rosemary, por sua vez, vai se perdendo dentro de indagações. Quem realmente são essas pessoas? O que aconteceu com o homem que ela amava? Por que o bebê se tornou alvo de quase um culto dos moradores do prédio? E, assim, ela vai entrando num estado paranóico que confunde inconscientemente o espectador. A narrativa, por um lado, sugere abertamente a origem do que está em seu ventre, mas por outro o comportamento e a interação dela com os demais suscitam a dúvida. E isso é um dos maiores trunfos de Polanski: a dúvida que permeia todo o filme. É ela que faz dessa produção um dos melhores exemplares do gênero.


Você não sabe o que esperar. A sensação que antecede o susto inicia em um determinado instante e simplesmente perdura. Em cada centímetro do edifício – onde a maior parte da história se desenvolve - a impressão é que você será surpreendido por algo, a qualquer momento. Só que isso não acontece. É um excelente paralelo com a gravidez da protagonista. O pânico de ser mãe se funde com o medo transmitido ao espectador. Enquanto a criança cresce em seu útero, o terror cresce no público. Quando ela já não aguenta mais as dores de um processo que não acaba nunca, quem assiste ao filme não aguenta mais a dolorosa tensão causada pelas incertezas constantes propostas por Polanski. Você quer saber com o que ela está lidando, mas o diretor lhe traz para dentro do apartamento e o faz passar pelo medo de Rosemary. Medo não de uma criatura, de um espirito ou de um assassino como o gênero entediante nos propõe a cada ano. Mas sim o temor de não saber o que lhe aguarda. Existe algo mais assustador do que as incertezas do futuro?


Polanski consegue se aprofundar ainda mais em temas intelectualmente relevantes, fazendo do filme uma obra artística completa. Ao retratar o feliz casal de protagonistas do começo do filme e enfraquecer seu relacionamento com as mentiras contadas e os abusos cometidos, há a clara intensão de desconstruir a ideia tão popular do “sonho americano”. A desmistificação desse padrão é aplicada muito bem através da inserção de elementos ocultistas, como bruxaria e satanismo, dentro do ambiente superficialmente pintado como belo da família estadunidense. Da mesma forma que, politicamente, o roteiro ainda encontra espaço para dialogar com um tema tão em alta na década de 1960: os direitos da mulher. Jogada de um lado para o outro, arrastada pelo marido e pela vizinha, Rosemary muitas vezes se vê refém da vontade alheia, além de ter seu propósito existencial reduzido a apenas um objetivo: a maternidade. Entretanto, há a superação dessa metafórica opressão na surpreendente conclusão da história.



Sem duvidar da capacidade intelectual do público, Polanski entrega um produto desafiador e aterrorizante como poucas vezes vimos antes ou depois. Provavelmente você não ficará com o receio de ir a algum lugar escuro depois de assistir ao filme, mas com certeza ficará em estado de tensão por conta da assustadora e claustrofóbica sensação de perigo constante e iminente que a trama desperta. O Bebê de Rosemary é um dos melhores exemplos de como um filme pode representar, transgredir e se sobressair a um gênero restrito. É uma obra de arte plena e impecável, que ainda conta com uma gama de circunstâncias periféricas curiosas (a esposa do diretor ser assassinada, grávida de oito meses, pelo líder de uma seita ocultista, por exemplo) que fortalecem sua mística aterradora. Com certeza é um dos marcos do cinema hollywoodiano.




CARTAZES DO FILME 





CURIOSIDADES
Foi durante as filmagens de O Bebê de Rosemary que a atriz Mia Farrow se divorciou de seu marido, o cantor Frank Sinatra.

Originalmente, Roman Polanski queria Tuesday Weld para interpretar Rosemary e Robert Redford para o papel de Guy Woodhouse (John Cassavetes). O ator estava ocupado filmando Os Amantes do Perigo e Robert Evans preferiu Mia Farrow para viver a protagonista.

O edifício Dakota Building, localizado no bairro Upper West Side, em Manhattan, foi rebatizado como The Bramford para aparecer em O Bebê de Rosemary.

Roman Polanski é o diretor de O Bebê de Rosemary, mas antes de ele ser contratado, os produtores ofereceram o filme a Alfred Hitchcock.

Existem rumores de que Anton LaVey, fundador da Igreja de Satã, serviu como consultor técnico da produção e interpretou Satanás na cena da gravidez. No entanto, isto é falso, pois LaVey jamais teve envolvimento com o filme.

Sharon Tate faz uma ponta na cena em que Rosemary dá uma festa para seus “jovens” amigos.

- A voz da canção de abertura é de Mia Farrow.

- Roman Polanski se manteve o mais fiel possível ao livro de Ira Levin. Diálogos, esquemas de cores e até mesmo o figurino foi adaptado literalmente do que é descrito pelo autor. O diretor chegou até mesmo a perguntar a Levin qual era o número da revista New Yorker em que Guy Woodhouse vê uma camisa que quer comprar. Levin confessou que inventou esse detalhe.

William Castle comprou os direitos de adaptação do livro e levou o projeto a Robert Evans, da Paramount Pictures. Evans concordou em aprovar o filme apenas se Castle não o dirigisse. Isto devido à fama de Castle como diretor de filmes de terror de baixo orçamento. Em troca, ele concordou em fazer uma ponta como um homem próximo à cabine telefônica.

Rosemary diz a Terry Ginoffrio em certo momento: “Eu pensei que você fosse Victoria Vetri, a atriz”. Ela responde: “Todo mundo diz isto, mas eu não vejo semelhança”. Victoria Vetri é o nome verdadeiro da atriz Angela Dorian, que interpreta Terry.

De acordo com Mia Farrow, as cenas em que Rosemary caminha em frente ao tráfego de carros foram espontâneas e genuínas. Roman Polanski lhe disse: “Ninguém vai atropelar uma mulher grávida”.

Junto com Repulsa ao Sexo (1965) e Le Locataire (1976), O Bebê de Rosemary forma uma trilogia incidental de Roman Polanski sobre os horrores de se morar em apartamentos ou na cidade.

O bebê de Rosemary nasce em junho de 1966. Ou seja, 6/66.

Este foi o primeiro filme americano de Roman Polanski. Antes, ele quase dirigiu Os Amantes do Perigo (1969), mas Robert Evans, da Paramount, decidiu que O Bebê de Rosemary seria mais apropriado para Polanski.

Mia Farrow teve que comer fígado cru para uma cena do filme.

O filme, por ter como tema principal a vinda do anti-Cristo, é considerado por muitos críticos a inspiração para filmes populares como “O Exorcista” e “A profecia”, na década de 70.



A REAL MALDIÇÃO
Após o lançamento do filme, um crítico teria escrito que os vizinhos de Rosemary, se parecem com "uma pequena e reclusa seita da Califórnia". 

Até aí nada de estranho, mas o produtor William Castle começa a receber ameaças de morte, por causa do tema "anticristo" do filme. A maldição tem início em abril de 1969, quando Castle é internado em caráter de emergência, com falência renal. Na sala de cirurgia do hospital, testemunhas afirmam tê-lo ouvido delirar dizendo: "Rosemary, pelo amor de Deus, solte esta faca!". No final do filme, após descobrir a verdade, que seu filho foi resultado do ato sexual com o demônio, fato que ela acreditava ter sido apenas um sonho, pois havia sido dopada pelos vizinhos em um jantar horas antes, Rosemary aparece próxima do berço do amaldiçoado filho, com uma faca, dando a entender que pretende matar a criança.

No mesmo dia, e no mesmo hospital, estava Krysztof Komeda, compositor da trilha sonora do filme e grande amigo do diretor do mesmo, Roman Polanski, e de sua esposa, Sharom Tate. Assim como Hutch, o amigo de Rosemary, Komeda também morre por causa de um coágulo no cérebro. 

A atriz Sharon Tate era esposa de Roman Polanski estava grávida em 1969, quando foi brutalmente assassinada cerca de um ano após o lançamento do filme, em 9 de agosto de 1969, quando a casa do diretor foi invadida por quatro integrantes da Família Manson (Charles “Tex” Watson, Susan Atkins, Linda Kasabian e Patricia Krenwinke), a mando do psicopata Charles Manson. Sharon, que estava grávida de oito meses do primeiro filho do casal, foi estuprada e esquartejada pelos integrantes da seita (E reza a lenda que seu filho foi arrancado de suas entranhas e devorado pelos malucos satanistas). Além de Tate, foram mortos também Steven Parent, Abigail Folger, Wojciech Frykowski e Jay Sebring.

Anos depois, John Lennon foi morar em um apartamento no mesmo prédio em que O Bebê de Rosemary foi filmado, o Dakota Building. Lennon foi morto em 1980, nas proximidades do edifício



O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby) - 1968

SINOPSE
Talvez o melhor filme de terror já realizado, esta brilhante adaptação do romance best-seller de Ira Levin conta a história de um adorável casal novaiorquino que espera seu primeiro filho. Como a maioria das mulheres que são mães pela primeira vez, Rosemary (Mia Farrow) está confusa e receosa. Seu marido (John Cassavetes), um ambicioso mas mal sucedido ator, faz um pacto com o demônio pela promessa de vencer na carreira. O diretor Romam Polanski consegue extraordinárias interpretações de todo o elenco de astros. Ruth Gordon ganhou um Oscar® por seu papel, como uma super-solícita vizinha, neste clássico do suspense.



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, 
Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, 
Ralph Bellamy, Victoria Vetri, Patsy Kelly, 
Elisha Cook Jr., Emmaline Henry, 
Charles Grodin, Phil Leeds, Hope Summers
Título no BrasilO Bebê de Rosemary
Título Original: Rosemary's Baby
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski, baseado 
em livro de Ira Levin
Produção: William Castle
Fotografia: William Fraker
Música: Krysztof Komeda
Ano e País: 1968 -  EUA
Gênero: Suspense/Drama



PRÊMIOS E INDICAÇÕES

OSCAR 1969 (EUA)
- Venceu:  Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon).
- Indicado: Roteiro Adaptado (Roman Polanski)

BAFTA 1970 (Reino Unido)
- Indicado: Melhor Atriz (Mia Farrow)

David di Donatello 1969 (Itália)
- Venceu: Melhor Atriz Estrangeira (Mia Farrow)
- Indicado: Diretor Estrangeiro (Roman Polanski)

Globo de Ouro 1969 (EUA)
- Venceu: Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon)
- Indicado: Atriz - Drama (Mia Frrow)
 Trilha Sonora (Krzysztof Komeda) e Roteiro (Roman Polanski)




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